O médico veterinário Gervásio Bechara, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, está preparando uma vacina para eliminar carrapatos. A pesquisa é realizada com os chamados correlatos imunes, substâncias com potencial imunológico produzidas no organismo do parasita.

"Essas substâncias, quando utilizadas na vacina, agem no mecanismo de defesa do hospedeiro protegendo-o contra o ataque do inseto, que morre ao sugar o sangue", explica. Segundo o Ministério da Agricultura, as doenças no rebanho bovino brasileiro acarretam perdas anuais de até US$ 2 bilhões e afetam a produção de carne, leite e couro.

A pesquisa, ainda em andamento, é financiada pela Fundação de Amparo Pesquisa (Fapesp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Programa de Apoio do Núcleo de Excelência de Ensino (Pronex), com o auxílio da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Prejuízos

Entre as doenças transmitidas pelo ácaro, a babesiose é uma das mais comuns. Ela provoca perda de peso, anemia e pode levar à morte. Para a indústria do couro, grande parte dos prejuízos é causada pela incidência do parasita no rebanho. "Ao picar o animal, o carrapato causa uma lesão na pele, que compromete a qualidade do couro", explica Bechara.

Atualmente, para contornar o problema, os pecuaristas fazem uso de acaricida, veneno que contamina o meio ambiente, a carne e o leite. A utilização desse produto pode, ainda, gerar problemas futuros. "É possível que daqui a alguns anos a União Européia e outros países criem barreira sanitária, não aceitando mais importar carne e leite originados de animais infestados", aponta Bechara.

Segundo o pesquisador, já existem vacinas cubanas e australianas, porém o tempo de validade delas é curto e não dispensa o uso do acaricida. "A expectativa é que a droga que estamos desenvolvendo tenha um prazo de proteção maior e dispense a pulverização."

Vacina para cães

O núcleo de pesquisa busca também uma vacina para cães, com os mesmos princípios da imunização para o gado. "O cachorro é suscetível aos parasitas, também prejudiciais à saúde humana", alerta. Embora seja baixo o número de mortes causadas pelo ácaro, o risco existe e deve ser prevenido. A febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela, cuja forma imatura é o "micuim", tem causado mortes em várias partes do País, a mais recente delas na região de Piracicaba. "Mesmo tendo cura, o desconhecimento das doenças e a falta de informações levam a um diagnóstico tardio, acarretando o óbito", adverte o médico veterinário.