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Unesp/Botucatu estuda veneno de sapo
24/05

A constituição protéica e de aminas e a toxicidade do veneno de duas espécies de sapo (Bufo ictericus e Bufo schneideri) e do veneno de seus híbridos naturais, que ocorrem na região de Botucatu, são o objeto de estudo de Daniel Nadaleto, mestrando do Instituto de Biociências da Unesp, campus de Botucatu. ?O conhecimento sobre a constituição do veneno de anfíbios é de grande importância, não apenas como fonte de futuros medicamentos, mas pela própria informação biológica, que possibilita discussões e um melhor conhecimento sobre a evolução, fisiologia e ecologia desses animais?, afirma.

A pesquisa, realizada em conjunto com pesquisadores do Departamento de Ciências Fisiológicas do ICB ? Universidade de Brasília (UnB), encontrou variação individual qualitativa e quantitativa na constituição dos venenos, mesmo em sapos da mesma desova. ?Além disso, há diferença na constituição protéica e de aminas entre diferentes regiões glandulares nos sapos (parotóides, tibiais e glândulas espalhadas pelo dorso)?, diz Nadaleto.

Os anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) há muito tempo povoam a imaginação dos seres humanos. Estão envolvidos em lendas, mitos e histórias infantis, quase sempre tratando das secreções da pele desses animais. Além do muco, que protege o anfíbio contra dessecação e mantém a umidade adequada à respiração cutânea, entre outras funções, substâncias venenosas também estão presentes na pele desses animais. Essas substâncias são diversificadas, mas podem ser divididas em quatro grupos principais: os alcalóides, os esteróides, as aminas biogênicas e os peptídeos.

Outro componente do veneno dos sapos que somente agora está ganhando maior notoriedade são as proteínas. A descrição da constituição protéica é um primeiro passo de uma série de possíveis trabalhos de elucidação dos papéis biológicos delas e de suas aplicações. As proteínas presentes no veneno de sapos ainda são pouco estudadas, oferecendo um vasto campo de pesquisa e potenciais descobertas.

A origem e a evolução da diversidade de substâncias presentes na pele dos anfíbios será tratada no minicurso ?Aspectos Ecológicos e Evolutivos dos Mecanismos Antipredatórios em Anfíbios?, a ser realizado na Semana da Biologia do Instituto de Biociências, campus de Botucatu. O evento que acontecerá em agosto de 2005.

Os alcalóides, presentes, principalmente, em pererecas de coloração viva (aposemática) da América Central e do Sul (família Dendrobatidae), estão entre as substâncias mais ativas do reino animal. Os peptídeos são comuns na pele de rãs, apresentando atividade cicatrizante e antibiótica, entre outras. Por fim, os esteróides e aminas biogênicas são os principais componentes das mais de 250 espécies de sapos (gênero Bufo) presentes no mundo.

Os esteróides do veneno dos sapos há muito são conhecidos por sua atividade cardiotóxica e pesquisas recentes também descobriram atividade antimicrobiana dessas substâncias. Outro importante componente do veneno dos sapos, as chamadas aminas biogênicas, provocam desde irritação local na mucosa até estimulação da musculatura lisa, provocando diarréia.

Muitos mitos foram criados em torno das substâncias venenosas desses animais, como a de que sapos ?espirram? veneno quando manipulados e que a urina pode cegar uma pessoa, caso entre em contato com os olhos. No entanto, os sapos são incapazes de inocular seu veneno voluntariamente. As glândulas de veneno têm que ser comprimidas para liberar seu conteúdo. A urina dos sapos e de outros anfíbios também não é capaz de envenenar seres humanos.

As histórias mais intrigantes relacionadas a esses seres fascinantes são as de bruxas que utilizavam os sapos para produzir seus feitiços e poções mágicas. Estas histórias têm um fundo de verdade, uma vez que as substâncias presentes na pele dos sapos podem causar inúmeras reações nos seres humanos. Na China, sob o nome de Ch?anSu, e no Japão, sob o nome de Senso, usam-se preparações do veneno seco para o tratamento de várias enfermidades, como inflamações locais e resfriados. Alguns sapos possuem substâncias alucinógenas na pele, o que tem levado a uma estranha mania nos EUA, o hábito de lamber sapos ou fumar o veneno, juntamente com tabaco, para obter alucinações. Assim, o conto da linda moça que beija um sapo que vira um príncipe pode ser mais do que uma simples fábula.

Marcela de Freitas Rodrigues - IB/Botucatu