Grupo do
IA-São Paulo transforma obra de |
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Por Carolina Bonfim | ||
O grupo de teatro "Canhoto Laboratório de Artes da Representação", ligado ao Instituto de Artes da Unesp (IA), campus de São Paulo, acaba de lançar o seu mais novo trabalho. Trata-se da montagem de um espetáculo baseado no livro "Não verás país nenhum", de Ignácio de Loyola Brandão. Para o processo de adaptação do texto literário em texto teatral foi realizado um curso de extensão universitária, em parceria com a Universidade São Marcos, ministrado por Alexandre Mate, que trabalhou durante oito meses os conceitos teóricos de dramaturgia e métodos práticos para a adaptação do texto. O resultado da criação colaborativa foi o texto "Nenhum alguém em lugar algum". A temática do espetáculo é a degradação absoluta, tanto da natureza quanto da humanidade, em uma ação gradual de exploração e corrupção. O grupo pretende colocar em discussão um assunto grave e urgente que diz respeito à humanidade: destruição do planeta. Para a montagem optou-se pela pesquisa aprofundada na estética expressionista e no teatro de forma épica desenvolvido por Bertolt Brecht. Desde o ínicio do ano o grupo realizou fóruns de discussão para debater o expressionismo no teatro e o teatro de forma épica. No último dia 20 de setembro, o grupo fez um ensaio aberto do espetáculo aos alunos da Unesp e à comunidade do bairro do Ipiranga de São Paulo, que objetivou, após a apresentação, discutir o processo de montagem. grupo de teatro "Canhoto Laboratório de Artes da Representação" surgiu no IA, em 2001, devido à necessidade de alguns formandos em Artes Cênicas em desenvolver um trabalho de pesquisa e investigação teatral. O grupo utiliza, permanentemente, o espaço do Instituto de Artes para ensaios e ministrar aulas de teatro para a comunidade do bairro do Ipiranga, dentro do programa da UNATI (Universidade Aberta à Terceira Idade). É dirigido por Alexandre Mate, professor de História do Teatro e Encenação do Instituto de Artes e de outras escolas de teatro de São Paulo. Hoje o grupo é composto por artistas com formação em diversas escolas, como Teatro-Escola Célia Helena, INDAC, Fundação das Artes, CPT- Antunes Filho , UNESP e ECA-USP. O cadastro para receber informações sobre as próximas apresentações e conhecer mais o trabalho do Canhoto pode ser feito pelo e-mail: canhotolaboratorio@yahoo.com.br Segue abaixo uma sinopse do espetáculo: O texto apresenta, num contexto "ficcional", a cidade de São Paulo inserida em um Brasil completamente terraplenado, com uma população à mercê de racionamentos de toda ordem. Souza, ex-professor universitário de história, encontra-se na tentativa de se abrigar sob uma imensa marquise superlotada construída contra o sol que, em determinadas regiões, corrói a pele e mata em poucos segundos. Neste lugar Souza mergulha em intenso pesadelo, pensando estar em uma decadente casa de peep-show. A partir daí surgem lembranças e alucinações fragmentadas: Souza percebe um furo na sua mão (anomalia física bastante leve se comparada às inúmeras deformidades que assolam o País) e passa a enxergar Adelaide, que foi sua mulher, atormentando-o freneticamente com uma fé doentia, o pânico em relação ao furo e a necessidade de vestir um paletó. É pressionado pelo sobrinho, rapaz promovido a capitão a quem deve o favor de conseguir, sempre, fichas de água (urina reciclada). Passa pelo emprego inútil e posterior demissão e pelo reencontro com um antigo amigo de faculdade. Esquece-se como foi exatamente que perdeu seu apartamento, viu-se em meio aos chamados Acampamentos Paupérrimos e chegou à interminável fila para adquirir alardeados guarda-chuvas de seda preta, capazes de bloquear a ação do sol. Tais guarda-chuvas, na realidade, não existem, e as filas desembocam nas imensas marquises de onde não se pode mais sair: cair no sol significa morte imediata. A discussão ecológica está diretamente relacionada à corrupção de todo o sistema social e à existência de um "Esquema" político de organização que apresenta lógicas bastante próprias. A população, ao longo de anos de degradação absoluta, é levada a um alto grau de alienação que passa pelo desconhecimento da linguagem escrita e pelo convívio diário com mutações genéticas diversas. Despelancados e carecas mendigam ao redor das filas submersas no cheiro de podridão que aumenta com o calor, num país onde só existem alimentos factícios (artificiais) e negociam-se fichas para a água escassa. Montanhas e cavernas formadas por lixo, globalização, permissão para circular. Caos. Apatia, circundada por algum movimento. Explosão imunda de um universo em destruição, de um futuro que já se anuncia e pede reação para não vir a ser. |
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