FCL-Araraquara discute
produção nacional |
Por Abner Massarioli |
O Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (FCL), campus de Araraquara, promove, nos dias 4, 11, 18 e 25 de novembro, um seminário sobre cinema, coordenado pela Profa. Dra. Anita Simis. O evento tem por objetivo analisar o que foi produzido pelo cinema e a televisão brasileira durante o período do regime militar, investigando qual a produção em vídeo e filme que se apresentou simpática ao sistema político então vigente e qual aquela que foi crítica. O evento contará com mesas-redondas de pesquisadores e cineastas brasileiros, que discutirão a produção audiovisual realizada durante o período militar, além da exibição dos filmes e programas para a televisão representativos do período. A proposta do evento se justifica dado o grande interesse dos alunos sobre o que significou tal período e as formas de resistência ao arbítrio. "Apesar da vasta bibliografia sobre o tema, o fenômeno está longe de ter se esgotado como fonte de análise e reflexão nas ciências sociais, e ainda são raras as iniciativas que procuram fazer uma revisão crítica do que foi a produção cinematográfica e televisiva durante o período", comenta Anita. "Por outro lado, os atuais alunos, ouviram falar muito de censura, mas, afora o que ocorreu no campo da música, desconhecem o que foi a resistência e a produção crítica deste período", completa. A docente afirma que as atividade propostas no encontro contribuirão significativamente para o enriquecimento da formação de professores e alunos de pós-graduação e de graduação em Ciências Sociais. "Vai propiciar o contato com novas abordagens no campo da pesquisa e do ensino em Ciências Sociais", diz. O evento contará com a presença dos cineastas Roberto Farias, Roberto Gervitz e Sérgio Muniz e dos professores doutores César Bolaño, Cláudio Bertolli, Laurindo Leal Filho, José Mário Ortiz Ramos, Paulo Menezes e Tânia Pellegrini, além da presença de professores do Departamento de Sociologia, que organizarão a apresentação dos trabalhos e dos debates. São eles, Profa. Dra. Eliana M. de Melo Souza, Prof. Dr. Milton Lahuerta, Prof. Dr. Renato Bueno Franco, Profa. Dra. Maria Ribeiro do Valle, Profa. Dra. Leila Stein, Prof. Dr. José dos Reis Santos Filho. Roberto Gervitz e Sérgio Muniz são diretores de dois dos filmes importantes a serem exibidos, Prof. Dr. Laurindo Leal Filho (ECA/USP) de sua experiência na TV Cultura, Prof. Dr. José Mário Ortiz Ramos (UNICAMP) da produção cinematográfica do período (lembramos que é o autor de importante capítulo sobre no livro História do cinema brasileiro, org. por Fernão Ramos), Prof. Dr. Paulo Menezes (Sociologia/USP) da articulação ficção e realidade nos filmes do período e Profa. Dra. Tânia Pellegrini (Letras/UFCar) da relação cinema/telenovela e literatura dos anos 70. Temas das palestras 1) A produção cinematográfica nos anos 70, abordando como se produziram os filmes neste período. Neste sentido, a participação do cineasta Roberto Farias será fundamental na medida em que foi diretor da Embrafilme de 1974 a 1985, principal agência financiadora, afora poder dar seu próprio testemunho sobre a sua obra Pra Frente, Brasil, que será exibida durante o evento. 2) A produção para a Televisão nos anos 70: abordando como se estruturou o mercado brasileiro de televisão, como ele passa de competitivo para oligopólico. Neste sentido, a participação do Prof. Dr. César Bolaño é imprescindível na medida em que é o autor do livro Mercado brasileiro de televisão, obra já clássica sobre o assunto. 3) Os filmes e programas para cinema e televisão que se apresentaram simpáticos ao regime político então vigente e aqueles que foram críticos. Programação Independência ou Morte - Carlos Coimbra (1972). Trata-se de um filme emblemático e referencia obrigatória quanto à aderência ao regime militar. Os Inconfidentes - Joaquim Pedro de Andrade (1972). Filme que trata da opressão, do questionamento do papel dos intelectuais, que se contrapõe a Independência ou Morte. Aleluia Gretchen - Sylvio Back (1976). Outro exemplo de discussão sobre o Estado autoritário. Você também pode dar um presunto legal - Sérgio Muniz (1971). Trata-se de um filme inédito, realizado com recursos próprios e que aborda uma questão desprezada pela história: como funcionava o esquadrão da morte, uma organização assassina, importante durante o período. Braços Cruzados, máquinas paradas - Roberto Gervitz e Sérgio Segall (1978). Foi um dos primeiros filmes a tratar das greves e que teve grande repercussão no circuito alternativo na USP. São Bernardo - Leon Hirszman (1972). Filme que teve problemas com a censura e que hoje é um clássico da cinemateca. Zé zero - de Ozualdo Candeias (1974), autor do chamado movimento marginal, filma com poucos recursos, mas radicaliza na experimentação. Pra Frente, Brasil - Roberto Farias (1981). Este filme, já realizado no período da abertura, pós anistia, é interessante por que aborda pela primeira vez a tortura, embora tenha sido muito criticado. Por isso mesmo vale a pena rever, em outro contexto, que papel ele cumpriu. OBS - Além destes filmes, serão exibidos trechos de programas de televisão do período. O levantamento deste material está sendo realizado junto a vários organismos e ainda não foi concluído. |
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