Futebol:
linguagem da paixão |
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Pesquisador
da UNESP mostra a influência do futebol na linguagem do povo brasileiro e revela seu significado |
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"A presença do futebol na cultura brasileira pode ser notada na linguagem do cinema, da música, do teatro, da dança, da literatura clássica, da prosa e até da poesia", conta o Rodrigues. No entanto, o aspecto mais fascinante do estudo é a criatividade mostrada pela linguagem do futebol. Na sua pesquisa, o professor conseguiu identificar cerca de 2 mil neologismos conceituais, cujos significados podem ser compreendidos pela maioria das pessoas. Paixão e guerra - "A paixão nacional conseguiu produzir uma linguagem única em sua forma de expressão, na qual predominam termos eróticos e militares", conta Rodrigues. Pela simbologia, se o gol é o orgasmo do futebol, a bola, com certeza, é a mulher desejada pelo jogador. Aliás, o jogador que apresenta bom desempenho em campo é aquele que tem intimidade com a bola, que sabe tocá-la até o gol. Não é à toa que a rede ganhou o apelido carinhoso de véu de noiva. Futebol é paixão, mas também é guerra. E na competição pela bola, vale tudo para atingir o gol antes do adversário. Criar táticas de jogo, estratégias de defesa, marcar o adversário, fazer barreira e mandar um torpedo são algumas das palavras que revelam esta simbologia. Sem limites - A criatividade da torcida, dos técnicos, dos jogadores e dos narradores de futebol extrapola os limites da imaginação. Nada melhor do que a palavra frangueiro para mostrar que o goleiro tem um mau desempenho. Assim como o termo olé serve para evidenciar lances de dribles com o intuito de provocar a torcida adversária. A linguagem do futebol também recebeu um tempero da culinária. O termo cozinhar, por exemplo, cai como uma luva para mostrar que o time está retardando deliberadamente o jogo. Assim como aperitivo é um apelido carinhoso para uma partida preliminar e carne assada, para um jogo amistoso. Às vezes, a palavra criada no meio futebolístico parece ter sido tirada da boca do povo. É o caso do termo deu zebra. Usado pelo técnico carioca Gentil Cardoso para qualificar um resultado imprevisto de um jogo, a expressão tornou-se de domínio público e passou a ser largamente empregada. "Provavelmente, o técnico foi buscar inspiração no jogo do bicho que utiliza quase todos os animais, menos a zebra", comenta Rodrigues. Já em alguns casos a interpretação do neologismo é praticamente impossível de ser feita por um leigo. É o caso do verbo pipocar. Quando um jogador evita confrontos com o adversário para não se machucar, a torcida diz que ele está saltando fora das jogadas que nem pipoca. Combate à gíria - O predomínio da gíria no futebol é tão forte que já houve quem tentasse criar um vocabulário específico para o esporte. O técnico Cláudio Coutinho, da seleção brasileira de 1968, pode ser considerado o precurssor desta tenmtativa de normatização. "Como ex-militar, Coutinho usava muitas expressões dessa área para criar novos conceitos de táticas de jogo", conta o professor. São criações dele, por exemplo, a expressão tanque, que qualifica um jogador forte, parrudo e atarracado. Na tentativa de acabar com a gíria, o técnico também foi buscar inspiração em outros idiomas. O jogador que não tem posição fixa no jogo, por exemplo, ganhou o nome de libero, palavra de origem italiana que significa livre. É dele também a expressão jogo aéreo, criada com o intuito de substituir o popular chuveirinho, nome dado à bola levantada que entra pingando no campo. "Apesar desta tentativa, a linguagem do futebol não se submete a normas. Pode incorporar frases técnicas, mas é por essência livre", finaliza o pesquisador. Onde encontrar: |
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