Néctar
dos deuses à prova da ciência |
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Centro
de Isótopos Estáveis da UNESP desenvolve técnica para analisar a pureza dos vinhos e de seus subprodutos |
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Tomar vinho é quase que ritual sagrado para as pessoas que o degustam. O vinho é considerado uma bebida sofisticada, mas sua origem remonta à época da civilização dos Aqueus, na Grécia Antiga (século XIII a.C.). Hoje, é uma das bebidas mais apreciadas no mundo. O seu consumo está enraizado na cultura de países europeus e, no Brasil, vem se tornando uma coqueluche a cada dia. Apesar de serem provenientes de uma mesma fruta, são inúmeros os tipos de vinhos existentes no mercado. Cada um traz uma história específica de cultivo e de vida, e uma particularidade ímpar no sabor. Os grandes produtores são normalmente de famílias tradicionais de determinadas regiões, que guardam os seus próprios segredos de preparação. Entretanto, você conhece a qualidade dos vinhos e de seus subprodutos que consome? O Centro de Isótopos Estáveis Ambiental, do Instituto de Biociências da UNESP (IB), câmpus de Botucatu, é o único no Brasil a realizar testes precisos na qualidade dos vinhos e seus subprodutos (vinagre). A técnica para tal análise foi desenvolvida há três anos e, desde então, vem sendo utilizada para detectar adulterações na composição de vinhos e vinagres produzidos no Brasil. As pesquisas, entretanto, começaram a ser realizadas quando a Associação Nacional de Vinagres (Anav) decidiu implantar uma política de qualidade nos produtores brasileiros. Os técnicos da Anav estavam desconfiando de problemas com a matéria-prima do vinho e queriam saber qual era a qualidade destes produtos, pois havia uma suspeita de adulteração com álcool de cana-de-açúcar. Com isso, o Centro de Isótopos Estáveis passou a receber amostras de vinhos de todo o Sul do País, já que é a região que representa a grande produção de vinhos no Brasil, e começou a comparar com as amostras de vinhos puros fornecidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias), que funcionavam como produto padrão. De acordo com o doutor da UNESP de Ciências Físicas Aplicadas Carlos Ducatti, coordenador do Centro de Isótopos Estáveis, os vinhos e vinagres brasileiros analisados apresentaram um alto índice de adulteração. "Para se ter uma idéia, há vinhos com 53% de álcool de cana-de-açúcar", revela Ducatti. "Houve uma grande repercussão depois que apresentamos as primeiras análises. As empresas vinagreiras quebraram contratos e deixaram de comprar vinhos do Sul", comenta. Antes que o Ministério da Agricultura tomasse alguma providencia, os próprios produtores de vinhos se prontificaram a reestruturar o processo de produção. "Essa prática de adulteração já existe há mais de 20 anos e houve um choque no mercado quando tudo isso foi revelado", afirma Ducatti. "O Instituto Brasileiro de Vinhos está implantado a técnica desenvolvida na UNESP em toda a região Sul e a melhora na qualidade já pode ser observada. Os vinhos da safra de 2001 estão totalmente de acordo com as normas de qualidade, mas os de estoque ainda estão comprometidos. Por isso, é bom ficar atento na hora de adquirir um vinho ou um vinagre nacional", complementa. Contudo, a UNESP estabeleceu parcerias com mais de 40 empresas vitivinícolas, já que são companhias que compram matéria-prima de pequenos produtores, que, por sua vez, não oferecem garantias de qualidade. Além disso, a própria Embrapa está analisando a qualidade de seus vinhos. E a mesma coisa está sendo feita pela Associação de Produtores de Vinhos Finos. Com toda essa reviravolta no mercado, o maior beneficiado é o consumidor final, que levará à sua mesa um produto de melhor qualidade. "Esse corrida pela qualidade é saudável para o mercado e principalmente para o consumidor. Mas isso acabou virando uma guerra comercial. Para se ter uma idéia, empresas mandam analisar os produtos de seus concorrentes e entregam os resultados ao Ministério da Agricultura", conta Ducatti. "Mas o que importa mesmo é a melhoria na qualidade dos produtos. Num passado muito recente, os vinhos e vinagres apresentavam de 30% a 40% de álcool puro e agora possuem cerca de 70%, uma percentagem permitida por lei", aponta. Devido ao sucesso da pesquisa desenvolvida na UNESP, o Ministério da Agricultura está prestes a fechar um convênio com a universidade para analisar os vinhos e vinagres produzidos em todo o País. O laboratório da UNESP está sendo credenciado oficialmente para promover tais análises, sendo o único do Brasil a desenvolver este trabalho. "Há também a possibilidade de convênio entre os governos brasileiro e alemão a fim de viabilizar novos equipamentos para o nosso laboratório", informa Ducatti. O laboratório está utilizando a mesma técnica para analisar a qualidade dos uísques e dos sucos de uva, bem como fará pesquisas com avicultura, psicultura, fisiologia vegetal e com animais de grande porte, em parceria com a Faculdade de Veterinária da UNESP, com o Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, com a Universidade federal do Mato Grosso do Sul e com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, justamente para atender toda a demanda interna. "Hoje, o laboratório de Isótopos Estáveis é auto-sustentado, já que gera recursos com a prestação de serviços às empresas de vinhos e vinagres. O capital que entra é totalmente revertido para a manutenção dos equipamentos", finaliza Ducatti. Técnica com isótopos estáveis Como quimicamente não dá para distinguir o álcool de vinho do da cana, a técnica desenvolvida na UNESP ganhou importância nacional. Para fazer a análise, os técnicos se utilizam dos isótopos estáveis e não dos radioativos, como é comumente usado em pesquisas e datação, como é o caso do Césio 137, do Urânio e do Carbono 14. "Ninguém imaginou usar os isótopos estáveis e o que constatamos é que eles possuem grande aplicabilidade neste tipo de pesquisa", explica Carlos Ducatti, coordenador do projeto da UNESP. Segundo Ducatti, a pesquisa é baseada na origem botânica do álcool com plantas do ciclo fotossintético C3 (uva, frutíferas e cevada, por exemplo), cujo conteúdo isotópico de C13 e C14 são diferentes das plantas do ciclo fotossintético C4 (cana-de-açúcar e milho, por exemplo)", comenta. "A grosso modo, ao analisar o conteúdo isotópico, fica fácil mensurar qual é a origem do álcool e a margem de erro é praticamente zero", conclui. Produção e consumo mundial de vinhos (fonte: Office International de la Vigne et du Vin - 2000)
Consumo de vinhos no Brasil (fonte: UVIBRA - União dos Vitivinicultores
do Brasil - ano 2000)
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